Na constante lapidação interior para nos tornarmos retos, honrados e
de bons costumes, muitas vezes esquecemos que, para tanto, nem sempre se deve
apenas acrescentar coisas boas e desbastar o que há de ruim; deve-se também
silenciar, compreender e muitas vezes desprezar o que vem de fora.
É bastante comum, durante nosso dia a dia, sermos injuriados e
ofendidos. Diversas vezes são pessoas distantes que o fazem e, quando são
estas, fica de certa maneira fácil desprezar o insulto e prosseguir sem nenhum
sentimento de que se foi ofendido. Muitas vezes não é necessário nem mesmo uma
compreensão da ofensa. Simplesmente
ignoramos.
O verdadeiro teste de lapidação interior vem quando a ofensa é
proferida por alguém próximo: pais, filhos, pessoas queridas, pessoas que se
amam, etc. Este sim precisa de uma verdadeira análise, silêncio, compreensão e
desprezo.
Dizem que são sábios ou santos aqueles que conseguem verdadeiramente
não se estremecerem com tais injúrias. Para desprezá-las não é preciso ser
santo ou sábio, mas sim sermos tão sensatos que possamos dizer para nós mesmos:
“Mereci ou não estas coisas que me acontecem? Se mereci, não é ofensa,
é julgamento. Se não mereci, aquele que está a ser injusto comigo, deveria
envergonhar-se disso.”
Caso estejamos sendo injustamente injuriados, devemos compreender o
que se passa no coração da pessoa próxima que nos ofende. E isso me lembra
muito um trecho do livro “Humilhados e Ofendidos” de Fiodor Dostoievki:
“Com que frequência caminhei no
quarto de um lado para o outro, com o desejo inconsciente que alguém me
insultasse ou proferisse alguma palavra que eu pudesse interpretar como um
insulto, para que eu desabafasse a minha raiva em alguém. É uma experiência
muito simples que acontece quase diariamente, e ainda para mais quando existe
algum outro segredo, uma aflição no coração, para o qual se deseja dar uma
expressão verbal mas que não se consegue.”
E por fim devemos nos silenciar e reconsiderar o seguinte:
Quem te injuria, não te injuria. Quem te agride, não te agride. Quem
te ultraja, não te ultraja. Então quem te injuria, agride ou ultraja? O juízo,
o julgamento, a sentença de quem assim procede contigo – e também a tua opinião
sobre o ato de que foste vitima. Assim, pois, quando alguém provocar a sua ira,
sabe que a tua opinião é que irado te torna.
Sendo assim, não te precipite e
doma suas ideias. Pois uma coisa é certa: se ganhares tempo e pausa a fim de ponderar
o acontecido - então, facilmente, será senhor de ti mesmo.
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