A engenhosidade com que o prisioneiro busca meios para a sua libertação, utilizando fria e pacientemente cada ínfima vantagem, pode mostrar de que procedimento a Natureza - o Grande Arquiteto Do Universo - às vezes se serve para produzir o gênio. Ela o prende e o açoita num cárcere e assim estimula ao máximo o seu desejo de se libertar.
Podemos observar essa consequência de outra maneira: quando alguém que se perdeu completamente ao caminhar pela floresta, mas que, com uma energia invulgar, se esforça por achar uma saída, descobre às vezes um caminho que ninguém conhece. Assim se formam os gênios, dos quais se louva a originalidade.
Já é conhecido que uma mutilação, um aleijamento ou a falta relevante de um órgão, com frequência dá ocasião a que outro órgão se desenvolva anormalmente bem, porque tem de exercer sua própria função e ainda uma outra.
Com base nisso, podemos imaginar a origem de muitos talentos brilhantes ou a enorme desgraça de um indivíduo. A sua genialidade ou desgraça é resultado do cárcere interior e exterior que ele se encontra por condições impostas pela Natureza e mais ainda da indomável ânsia que tem em se libertar, ou a falta desta. Caso o encarcerado tenha essa vontade forte o suficiente - e digo que essa força existe em cada um de nós, mesmo que ainda não descoberta - ele vê que consegue se libertar dessas correntes e derrotar o carrasco que lhe açoita, das formas mais engenhosas e originais. Mas se o contrário ocorrer, ou seja, se ele não buscar em si uma vontade forte, e é somente em si que se busca tal força para arrancar as correntes, ele entrará em colapso e permanecerá dentro das masmorras impostas pela Natureza, mas aceita por ele mesmo.
Já foi dito por alguém que "Entre a genialidade e a loucura existe uma linha tênue"; Eu digo que entre a genialidade da liberdade e desgraça da limitação existe a vontade.